segunda-feira, 14 de maio de 2012

IGUAL PAGAMENTO PARA HOMEM E MULHER


Ao visitar a Colombia (1983) soube que quatro mulheres eram ministras de Estado. Admirei-me, pois ali a força da religião era sufocante e o machismo conservava o ranço  dos tempos coloniais! Mas senti o Brasil atrasado. As mulheres estavam avançando em outros países. Para citar exemplo extremo, o Ministério da Defesa reservado a homens, por ser o mais importante de uma Nação, pela primeira vez foi dirigido por uma mulher no pequenino Sri Lanka (1960-65); e assim continuou, em pelo menos 50 países – entre eles Nepal, Croácia, Butão. Em alguns, mulheres dirigiram-no várias vezes, como Canadá (2), Noruega (4), Nicarágua (3) etc.
Hoje lavamos a alma. Temos mulheres, dirigindo cargos da maior importância. Creio sermos o único país no mundo com duas mulheres na linha de frente dos nossos destinos: Dilma Roussef, na Presidência e Gleise Hofman, na Chefia do Gabinete, posição equivalente à de 1º ministro. Crescemos no número de ministros, senadores, deputados, etc., ainda que pouco.

Mas para não nos extasiarmos com esse avanço, é bom lembrar que estamos muito lentos em relação à igualdade de pagamento e de oportunidade entre gêneros, no exercício de uma mesma função. Os jornais anunciam, como se fosse grande conquista, o aumento em 2011 da presença feminina na administração pública (22,6% X 10,5% dos homens) e no comércio. Refere-se, em geral, a funções que os homens não gostariam de exercer, como serviços domésticos, limpeza e similares. A maioria esmagadora é terceirizada, podendo ser dispensada, a qualquer hora, sem ônus para o empregador.
O mais constrangedor, segundo relatório do Banco Mundial, é que a diferença salarial entre os sexos cresce com a escolaridade, reafirmando no sec. XXI a limitada capacidade intelectual da mulher, como se acreditava no inicio dos tempos. Por acaso homens e mulheres não pagam os mesmos custos para cursarem escolas, colégios, universidades? Qual a base, se não a de forte preconceito machista, e exploração da mulher, para que esta  receba menor paga?
Ainda hoje lutamos contra essa discriminação no Brasil, quando a maior parte do mundo há décadas já a anulou, não mais se falando dessa abominável espoliação da força de trabalho feminina.
O primeiro grito de luta de efeito imediato foi dado na Inglaterra, no turbulento 1968. Então, sem ter conhecimento da revolução social que ocorria na França, uma outra revolução teve lugar, no subúrbio londrino de Dagenham. As  187 mulheres que trabalhavam na montadora da Ford, costurando capas para bancos e forros dos carros, decidiram ir à greve por pagamento igual ao dos 50.000 homens que ali trabalhavam.  Ganhavam metade do que pagavam a estes. Também exigiam paga por horas extras. Mais uma vez, Davi enfrentava Golias. Tendo tudo contra – sindicato 100%  masculino; patrões, em pânico quando os superiores norte-americanos ameaçam transferir a fábrica para outro país; oposição dos operários demitidos quando a fábrica fecha – nada as fizeram descruzar os braços, até a vitória final. Esta chega quando a ministra do Trabalho, Barbara Castle, bela ruiva que conheceu a luta sindical, manda chamar as líderes grevistas para conversar. Pressionada pelo representante dos americanos, tenta barganhar, mas as operárias mantem-se irredutíveis, e a ministra promete que em dois anos, i.e. em 1970, o “Equal Pay Act” estaria aprovado pelo Parlamento. E assim foi. Quem não conhece toda a história, deve ver o filme “Revolução em Dagenham”, desde 2010 em DVD no Brasil.
A luta das mulheres norte-americanas foi bem mais longa e penosa. Apenas em 1972 “direitos iguais para homens e mulheres” foi aprovado pelo Congresso. E nós, ainda tateando, depois de  74 anos da promulgação da CLT? O nosso último projeto é permissivo e rizivel. As multas, num país onde “a lei existe, mas não a obedeço”, são ridículas. Nos países sérios as penalidades vão de multas a prisão. De que adianta nossas leis se não há fiscalização, vontade política?  E tudo é político, como em versos cantou a saudosa poeta polonesa Wislawa Szymborska, Premio Nobel 1996.

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