Ao visitar a
Colombia (1983) soube que quatro mulheres eram ministras de Estado. Admirei-me,
pois ali a força da religião era sufocante e o machismo conservava o ranço dos tempos coloniais! Mas senti o Brasil
atrasado. As mulheres estavam avançando em outros países. Para citar exemplo
extremo, o Ministério da Defesa reservado a homens, por ser o mais importante
de uma Nação, pela primeira vez foi dirigido por uma mulher no pequenino Sri
Lanka (1960-65); e assim continuou, em pelo menos 50 países – entre eles Nepal,
Croácia, Butão. Em alguns, mulheres dirigiram-no várias vezes, como Canadá (2),
Noruega (4), Nicarágua (3) etc.
Hoje lavamos a
alma. Temos mulheres, dirigindo cargos da maior importância. Creio sermos o
único país no mundo com duas mulheres na linha de frente dos nossos destinos:
Dilma Roussef, na Presidência e Gleise Hofman, na Chefia do Gabinete, posição
equivalente à de 1º ministro. Crescemos no número de ministros, senadores,
deputados, etc., ainda que pouco.
Mas para não nos
extasiarmos com esse avanço, é bom lembrar que estamos muito lentos em relação
à igualdade de pagamento e de oportunidade entre gêneros, no exercício de uma
mesma função. Os jornais anunciam, como se fosse grande conquista, o aumento em
2011 da presença feminina na administração pública (22,6% X 10,5% dos homens) e
no comércio. Refere-se, em geral, a funções que os homens não gostariam de
exercer, como serviços domésticos, limpeza e similares. A maioria esmagadora é
terceirizada, podendo ser dispensada, a qualquer hora, sem ônus para o empregador.
O mais
constrangedor, segundo relatório do Banco Mundial, é que a diferença salarial
entre os sexos cresce com a escolaridade, reafirmando no sec. XXI a limitada
capacidade intelectual da mulher, como se acreditava no inicio dos tempos. Por
acaso homens e mulheres não pagam os mesmos custos para cursarem escolas,
colégios, universidades? Qual a base, se não a de forte preconceito machista, e
exploração da mulher, para que esta
receba menor paga?
Ainda hoje
lutamos contra essa discriminação no Brasil, quando a maior parte do mundo há
décadas já a anulou, não mais se falando dessa abominável espoliação da força
de trabalho feminina.
O primeiro grito
de luta de efeito imediato foi dado na Inglaterra, no turbulento 1968. Então,
sem ter conhecimento da revolução social que ocorria na França, uma outra
revolução teve lugar, no subúrbio londrino de Dagenham. As 187 mulheres que trabalhavam na montadora da
Ford, costurando capas para bancos e forros dos carros, decidiram ir à greve
por pagamento igual ao dos 50.000 homens que ali trabalhavam. Ganhavam metade do que pagavam a estes.
Também exigiam paga por horas extras. Mais uma vez, Davi enfrentava Golias.
Tendo tudo contra – sindicato 100%
masculino; patrões, em pânico quando os superiores norte-americanos
ameaçam transferir a fábrica para outro país; oposição dos operários demitidos
quando a fábrica fecha – nada as fizeram descruzar os braços, até a vitória
final. Esta chega quando a ministra do Trabalho, Barbara Castle, bela ruiva que
conheceu a luta sindical, manda chamar as líderes grevistas para conversar.
Pressionada pelo representante dos americanos, tenta barganhar, mas as
operárias mantem-se irredutíveis, e a ministra promete que em dois anos, i.e.
em 1970, o “Equal Pay Act” estaria aprovado pelo Parlamento. E assim foi. Quem
não conhece toda a história, deve ver o filme “Revolução em Dagenham”, desde
2010 em DVD no Brasil.
A luta das
mulheres norte-americanas foi bem mais longa e penosa. Apenas em 1972 “direitos
iguais para homens e mulheres” foi aprovado pelo Congresso. E nós, ainda
tateando, depois de 74 anos da
promulgação da CLT? O nosso último projeto é permissivo e rizivel. As multas,
num país onde “a lei existe, mas não a obedeço”, são ridículas. Nos países
sérios as penalidades vão de multas a prisão. De que adianta nossas leis se não
há fiscalização, vontade política? E
tudo é político, como em versos cantou a saudosa poeta polonesa Wislawa
Szymborska, Premio Nobel 1996.
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