segunda-feira, 14 de maio de 2012

Seca e Forró

Na edição deste jornal (4.5.12) o imbatível Simanca focalizou a seca que arrasa os sertões da Bahia. Com apenas dois personagens, um sertanejo e sua parceira e, em três linhas, Simanca traduziu para os leitores o resultado nefasto que seria festejar-se o São João com parcela da verba que o governo federal destinou para o combate deste terrível fenômeno climático que, em ciclos marcantes tem dizimado populações, rebanhos, agriculturas dos sertanejos.

Em edição anterior, o economista Armando Avena chamou a atenção para o fato de, por ser previsível, a seca não mais dever ser tratada como flagelo. A seca não é tsunami, disse ele. Chega de carro pipa, digo eu. Além de providências lenitivas que estão sendo tomadas, que o governo se mire no exemplo de Israel, onde desertos, não semi-áridos, tornaram-se vales frutíferos. Hoje (6.5.12), Hélio Pólvora, em excelente artigo, faz a relação entre Seca, Política e Sanfona, citando o exemplo luminoso da Austrália. Conclui  confiando que o TCE não permita o desvio de verbas públicas para o forró junino.
Afinal, os melhores forrós que já dancei, não apenas na Bahia, mas também na Paraíba, Ceará e Pernambuco, foi sempre ao som de sanfoneiros, sob galpões enfeitados, licores deliciosos e tudo o mais a que tem direito o sertanejo para alegrar os seus dias. Tudo promovido no local, nada de investir os suados reais que saem dos impostos que pagamos.
Em contraste, na mesma edição (4.5.12) na qual Simanca manifestou a sua inteligência invulgar, o Sr. Secretário de Cultura da Bahia ocupou quase metade  da p.2 para,mal disfarçadamente,  num discurso difícil de acreditar, saudar a cultura sertaneja por sua sabedoria em “conviver com um clima muitas vezes hostil, numa “relação vital e criativa para o mundo”. Citando luminares da literatura, como Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Glauber Rocha, Elomar e outros, o sr. Secretário pareceu-me desejar que a seca se prolongue para que a produção intelectual do mundo se enriqueça com a seca “um dos temas recorrentes” do sertanejo. Conclui “celebrar a cultura do sertão num contexto de brutal seca, não significa alienação (...) mas sim “homenagear a força e a sabedoria com que enfrentam a adversidade”. Puxa vida, que consolo! Se o governo não está alienado será que pensa que nós e os sertanejos estamos? Um pouco de bom senso não faz mal a ninguém. Ainda é tempo.


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