(publicado A Tarde 3 julho 2012)
O AUTORITARISMO PREDOMINA NO GOVERNO
Consuelo Novais Sampaio
As medidas adotadas pelo
governo da Bahia, através do secretario de Educação, agridem a democracia
duplamente: pela intransigência substituindo o diálogo, e pelo autoritarismo,
sinônimo de despotismo, substituindo a autoridade. Esta constatação se evidencia
na falta de ética e de moral nos recentes atos do governo.
A convocação de professores
em estagio probatório e Reda, para substituir os professores da rede estadual,
foi a mais recente tentativa de impor a autoridade pela força do poder.
Queremos crer que os convocados honrarão a categoria, construtores que são da
base educacional dos nossos jovens. Em contraste, os professores em greve,
aguardam do governo o respeito ao direito que lhes cabe de ajuste salarial de
22,22% fixado por lei federal (11.738/08). Estão acampados no legislativo,
aguardando a revogação da espúria lei estadual (12.364/11) que os engessou até
a Copa de 2014. Subliminarmente, governo e legislativo dizem aos nossos jovens
Não menos autoritária foi a
propaganda enganosa, veiculada pelo governo em canal de TV, afirmando que os
professores da rede pública estadual já haviam recebido ajuste salarial de 22%
a 26%.! Não explicou o milagre. Recorreu ao nosso maior veículo de propaganda –
tão grande que fez Lula aliar-se a um foragido da Interpol! Ao enganar o povo
através da TV, o governo da Bahia assumiu o papel de Golias contra um Davi,
cujo estilingue foi posto à venda em feira pública, visando a defesa de
princípios básicos da educação. Depois, revivendo o Leviatã -- monstro bíblico
recriado por Thomas Hobbes para caracterizar as garras do Estado repressivo que
se formava no século XVII -- o governo da Bahia cortou o parco salário de
professores indefesos. Ao invés de dialogar, preferiu humilhar. Tirar, ao invés
de dar-lhes o que lhes pertence por lei federal que, constitucionalmente, se
superpõe à estadual, mormente quando esta foi criada posteriormente, para a
defesa de interesses circunstanciais. A humilhação a que foram submetidos os
professores fortaleceu-lhes a dignidade, a honra, cujas noções transmitem aos
seus alunos. É a justeza da causa que defendem -- a educação, como pilar e
cerne da sociedade e do próprio governo – que faz com que aguardem decisão
favorável do governo.
Pelo que tem sido exposto na
mídia, deseja-se que a sórdida estratégia intentada pelo secretario de
Administração (jogar funcionários públicos contra seus companheiros, lembram-se?)
não faça escola. Que os professores convocados não se sintam como peças fracas
e disponíveis de um exercito de reserva, das quais se lança mãos quando
conveniente. Não permitam que sejam jogados contra seus colegas. O modo de ação
do governo, manipulando a sociedade contra os que preparam os seus filhos para
o futuro, é abominável, pela agressão, pela intransigência exacerbada.
Nos primórdios da atual
crise global, que feriu todo o sistema financeiro do planeta após a queda do
Lehman Brother’s, este quarto maior banco do mundo, em desespero, reuniu-se com
altos banqueiros coreanos, propondo-lhes comprar boa parte da massa podre de
imóveis que, aos borbotões, eram-lhes devolvida. Convencidos que os asiáticos
aceitariam sua proposta, decepcionaram-se quando, em silêncio, eles se
retiraram da mesa de negociações. Correram atrás e ofereceram-lhes maiores
vantagens. O líder coreano recusou. Continuou a andar e, virando a cabeça
disse-lhes não se tratar de capital; apenas, concluiu, “não gostei do jeito
como vocês conduziram as negociações”.
Parafraseando o banqueiro
coreano, está claro que não só os professores, mas a sociedade não gosta do
“jeito como o governo está conduzindo as negociações”. A despeito da lei da
Transparência e, conforme divulgado, os recursos do FUNDEB ultrapassarem 900
milhões de reais, além de vários bilhões ultimamente transferidos pelo governo
federal, nada foi-nos dito sobre a aplicação de tais recursos. Que o bom senso
prevaleça.//
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